(Por Amanda Gomes)
Meus amigos próximos sabem que sou fã de carteirinha dos anos 80, adoro as músicas, as roupas (não as usaria, claro) e principalmente os filmes. E quem não assistiu a qualquer filme dessa década na sessão da tarde ou no cinema em casa, não sabe o que é ser feliz. Bom, neste contexto, posso garantir que fui imensamente feliz, se é que vocês me entendem. Essa enrolação toda foi pra dizer o contrário do que todos estão esperando... Não, eu não assisti RoboCop. Como assim? Calma, eu posso explicar... Siga a seta –>
Na década de 90, já que eu era muito pequena no fim da década de 80, eu, criança inocente, me deparei com um filme extremamente violento e com um herói altamente estranho: um policial feio que, exercendo sua função de lutar contra o crime, é brutalmente assassinado, vira um robô que se movimenta e fala de modo estranho, sai atirando com uma arma cujas munições nunca acabam, e pior, fica mais feio ainda. Naquela época tinha Robocop de tudo quanto é forma, filmes, série de tv, jogos e até desenho animado. Mas, eu simplesmente ignorei este “rapaz”.
27 anos da primeira aparição do “Policial do Futuro”, é lançado Robocop, só que com a direção de um brasileiro, José Padilha. O contexto é basicamente o mesmo, num futuro (qualquer, para o 1º filme, e 2028, para o 2º), a cidade de Detroit está tomada pelo crime. Em meio a isso, o policial Alex Murphy é ferido (ou morto, depende do filme), salvo pela OmniCorp, que usa sua ciência robótica para tal, e se transforma num ciborgue responsável por combater o crime e blá, blá, blá.
Bem, não poderia falar sobre o RoboCop de Padilha, sem assistir (agora sem medo) o RoboCop de Verhoeven. Em épocas diferentes, os problemas sociais e políticos retratados são um pouco diferentes. Se em 1987 tínhamos um EUA futurístico, sem tv’s de plasma, smartphones e ultrabooks, à beira de um colapso e incapaz de promover a segurança pública sem a participação de instituições privadas, em 2014 temos um EUA, pós 11 de setembro, soberano, tecnológico e globalizado.
Verhoeven abusa da violência e frieza, a cena da execução de Murphy, por exemplo, é revoltante. Quando Murphy se torna RoboCop, sua humanidade desaparece completamente, até o momento que encontra sua antiga parceira, Anne Lewis. Esse encontro faz com que parte de suas lembranças sejam recobradas, desencadeando uma série de eventos através dos quais se desenrola o filme.
O RoboCop de Padilha é caveira! Com direito a uniforme do BOPE e tudo. Brincadeiras a parte, as histórias são semelhantes. Poderia até dizer que Padilha, que também escreveu o roteiro de Tropa de Elite, se inspirou em RoboCop para construir o Tropa e não o contrário. Diferentemente do de Verhoeven, a família de Murphy é muito presente, o que torna a primeira metade do filme muito cruel. Ele não morre, e a decisão de torná-lo um ciborgue fica nas mãos de sua esposa.
A mídia é muito presente nos dois filmes. Mas no RoboCop do futuro, a mídia é extremamente tendenciosa. Tão comum no nosso dia-a-dia, não? Samuel L. Jackson é Pat Novak, apresentador do The Novak Element e defende veementemente o uso de robôs no controle do crime. Os robôs já representam os EUA nas guerras ao redor do mundo, por que não combater a guerra contra o crime dentro de casa? Mas é mais fácil convencer as pessoas de que isso é positivo se o robô se parecer com um humano, com sentimentos humanos como compaixão.
Ambos os filmes são excelentes, cada um no seu quadrado. Se você é fã do RoboCop de 87, há 90% de chance de você não curtir o novo. Se você é fã de Tropa de Elite, há 90% de chance de você curtir o RoboCop versão 2014. Ambos trazem críticas sociais e políticas capazes de gerar momentos de reflexão, mas uma coisa eu garanto, assistir RoboCop com os efeitos especiais de hoje, não tem preço.
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