terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

FOREVER ALONE: Assunto de Meninas (Lost and Delirious)



(Por Amanda Gomes)


“Farei uma cabana de salgueiro em teu portão. E meu espírito entrará em tua morada. Comporei canções de um amor proibido... e cantarei insistentemente até mesmo na calada da noite. Gritarei teu nome, para que as colinas ressoem... e transformem o balbuciar do vento em um grito: Victoria!”



Lost and Delirious é um filme canadense de 2001 que conta com, as ainda novinhas, Mischa Barton (só me lembro dela em The O.C.), Piper Perabo, que na época era conhecida pelo filme Show Bar, e Emily VanCamp, da série Everwood. O filme conta a história, de Mouse, Tori e Paulie. Mouse (Mischa Barton) é levada por seu pai e sua madrasta para um colégio interno onde conhece Tori (Jéssica Paré) e Paulie (Piper Perabo). E embora, a principio, Mouse se sinta um tanto confusa com relação ao nível de intimidade de suas colegas, as três criam fortes laços de amizade. 



Quando vi na legenda o nome dado em português ao filme “Assunto de meninas”, imaginei que este era mais um filme de menininhas falando de garotos, roupas, cabelos, bailes e popularidade, além do mais, na época, as atrizes tinham rostinhos que cabia direitinho na capa de qualquer revista adolescente. E minha suspeita parecia confirmada quando, logo no inicio do filme, nos é apresentada a narradora-personagem Mary, a menina inocente que perdeu a mãe e está se sentindo “...um rato cinza indo direto para a boca do gato” .





Enganei-me completamente. À medida que os minutos vão passando, você se dá conta de que o filme não é nada disso, ele sequer faz menção a qualquer assunto comum de menina. O telespectador vai se deparar com conflitos adolescentes, romances e rejeição. No entanto não sabia dizer se os romances surgem em meio aos conflitos resultantes da rejeição ou se os conflitos surgem por medo da rejeição resultante do romance. Mero ato de rebeldia adolescente ou amor verdadeiro? 



É perceptível, com o decorrer do filme, que a narradora personagem está lá para ser o mar tranquilo por baixo do tsunami, com quem o telespectador “normal” se identificará. No tsunami, encontramos Paulie, a rebelde e loucamente apaixonada, e Tori, a garota perdida de uma família perfeita para os padrões americanos. Esta se sente obrigada a abandonar seu grande amor por medo de perder sua família.



Muitos filmes tratam homossexualidade como algo alegórico e unicamente sexual. Lost and Delirious é um filme sobre homossexualidade, e, esses filmes são, na maioria das vezes, cruéis e dramáticos. A adolescência é uma fase extremamente difícil, e é mais difícil ainda quando vem acompanhada de amor, amor proibido e amor proibido perdido “...Devo permanecer nesse mundo estúpido que, sem você, não valerá mais que uma pocilga?” 



Se pudesse definir este filme com três palavras, diria que ele é intenso, cruel e épico. Com uma trilha sonora incrível, mesmo sem ter uma trilha sonora lançada, foto de Ernesto "Che" Guevara na parede de Paulie, e citações de Shakespeare, traduzindo em palavras bonitas os sentimentos das personagens, Lost and Delirious é mais que um filme, é uma obra de arte. 



Não posso finalizar sem comentar o que, pra mim, é o melhor momento filme, onde Mouse explica os sentimentos de Lady Macbeth, personagem de Shakespeare. Segundo Mouse, Macbeth quer criar coragem, fazer o deve ser feito, mas tem sentimentos e se importa. Macbeth queria ser como os homens, pois eles não se importam. Talvez, o título em português traduza o sentido real do filme, afinal, quem nunca, numa roda de meninas, desejou ser homem e não sentir nada?


Nenhum comentário:

Postar um comentário